quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Simples

Papai,
que delícia é ter você o tempo todo.
É muito mais leve ter sua mão para segurar, sua voz para me acalmar, seus pés para me mostrar o caminho.

Eu sou uma garotinha bagunceira. E nós sabemos muito bem disso.
Quantas vezes você me fala alguma coisa e eu sou teimosa ou estou tão encantada com outra coisa que quase me esqueço que estou com você?
Quando me dou conta do que estou fazendo, imagino como é difícil lidar comigo e volto pra você, certa de que está bravo e vai brigar comigo, mas você me abre os braços e dá aquele abração de pai e me ensina tudo de novo, na maior paciência, de uma forma que até me emociona.

Você sabe que apesar de bagunceira, sou medrosa :D
E sabe que tenho medo do escuro. Me sinto vulnerável quando não enxergo, não entendo, não sei. E isso me deixa insegura e um pouco (?) desesperada rsrs
Mas daí você vem silenciosamente, segura na minha mão e todo o medo magicamente vai embora.

Como menina-quase-grande, às vezes tenho que fazer umas coisas de adulto.
Algumas delas são uma chatice, mas com outras me divirto.
Eu não sei lidar muito bem com elas rsrs jeitosa como sou, vivo derrubando tudo, fazendo uma bagunça enorme, quebrando coisas ou só fazendo tudo errado mesmo, como de costume rsrs
E quando as coisas ficam assim, pesadas, você vem e diz: deixa que eu cuido disso! Pega todas as coisas, coloca no lugar e me toma nos seus braços.

Quando sinto dor, seja no joelho ou no coração, é outra experiência encantadora porque você me ensina por meio dela enquanto trata o machucado.

Sabe? Eu amo a forma como você simplifica as coisas e como estar juntinho de você aqui de cima torna as coisas mais leves.
Ter você pra me abraçar tira de mim o peso de ter que fazer tudo certo o tempo todo. Nesse ambiente seguro que você me proporciona, está tudo bem ser só Dani.
Mesmo que não seja tão fácil, daqui é simples, daqui é possível.
É tão melhor contar com alguém tão maior que eu *-*
Obrigada por fazer as coisas como faz.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Diário de batalha

Em uma guerra, a primeira e maior batalha de um soldado é interna. Primeiro contra suas próprias limitações, em seguida contra as vozes.

Dizem que em uma guerra, os soldados tem que ser racionais, que quem sente é fraco.
Dizem que nas batalhas é cada um por si e o que importa é a auto preservação.
Dizem também que quem enfrenta batalhas pessoais durante a guerra não devia estar nela.

Mas aqui é tudo diferente. Não importa o que as pessoas dizem, a realidade é assustadoramente maior e mais complexa.

Aqui, quando se está sangrando, é sangrando, mesmo, que se vai pro campo de batalha, é sentindo dor, é com toda a dificuldade de ser uma pessoa lutando por si e por outras, é sendo engolido pelo medo quando vê ao seu lado cair um companheiro alvejado pelo inimigo e correr para ajudá-lo com a terrível consciência de que suas mãos cansadas não podem fazer muita coisa, é tendo que lidar todos os dias com as próprias dificuldades, dores e limitações, é não poder descansar porque mesmo quando se está dormindo, tem que permanecer atento ao que acontece ao redor, é ficar ligado para que não haja nenhum descuido, é sentir o desespero e a desolação tão próximos que pode sentir sua respiração e tentar permanecer firme, é superar a saudade, a tristeza, suas próprias dores, é ver a vida e a guerra tentando te devorar e aos seus companheiros, mas aguentar firme, não por força, mas porque não resta muita escolha.

A maior batalha realmente acontece dentro.
Se você está na guerra, mas ela não entrou em você, você ainda tem alguma chance de sair vencedor. Um soldado experiente sabe muito bem disso. Todo o terror, todo o horror estão ali, bem diante dos olhos e é impossível passar inerte a eles, mas o bom soldado sabe que o que define a sobrevivência é o quanto se pode aguentar sem desistir de lutar.


Mas no meio da guerra, o soldado mais forte não é o que não sente, mas o que sabe que por suas próprias forças não consegue vencer uma batalha sequer, e por isso tira toda a armadura, reconhece sua limitação e entende e aceita que é sim só com uma pedrinha que se vence o gigante.