terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Diário de batalha

Em uma guerra, a primeira e maior batalha de um soldado é interna. Primeiro contra suas próprias limitações, em seguida contra as vozes.

Dizem que em uma guerra, os soldados tem que ser racionais, que quem sente é fraco.
Dizem que nas batalhas é cada um por si e o que importa é a auto preservação.
Dizem também que quem enfrenta batalhas pessoais durante a guerra não devia estar nela.

Mas aqui é tudo diferente. Não importa o que as pessoas dizem, a realidade é assustadoramente maior e mais complexa.

Aqui, quando se está sangrando, é sangrando, mesmo, que se vai pro campo de batalha, é sentindo dor, é com toda a dificuldade de ser uma pessoa lutando por si e por outras, é sendo engolido pelo medo quando vê ao seu lado cair um companheiro alvejado pelo inimigo e correr para ajudá-lo com a terrível consciência de que suas mãos cansadas não podem fazer muita coisa, é tendo que lidar todos os dias com as próprias dificuldades, dores e limitações, é não poder descansar porque mesmo quando se está dormindo, tem que permanecer atento ao que acontece ao redor, é ficar ligado para que não haja nenhum descuido, é sentir o desespero e a desolação tão próximos que pode sentir sua respiração e tentar permanecer firme, é superar a saudade, a tristeza, suas próprias dores, é ver a vida e a guerra tentando te devorar e aos seus companheiros, mas aguentar firme, não por força, mas porque não resta muita escolha.

A maior batalha realmente acontece dentro.
Se você está na guerra, mas ela não entrou em você, você ainda tem alguma chance de sair vencedor. Um soldado experiente sabe muito bem disso. Todo o terror, todo o horror estão ali, bem diante dos olhos e é impossível passar inerte a eles, mas o bom soldado sabe que o que define a sobrevivência é o quanto se pode aguentar sem desistir de lutar.


Mas no meio da guerra, o soldado mais forte não é o que não sente, mas o que sabe que por suas próprias forças não consegue vencer uma batalha sequer, e por isso tira toda a armadura, reconhece sua limitação e entende e aceita que é sim só com uma pedrinha que se vence o gigante.

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