quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Como nossos pais



Eu conheci a música título dessa postagem por conta de uma apresentação de jazz.
E quando você vai dançar uma música, você precisa ouvi-la 500 vezes, voltar parte por parte e acaba até enjoando, mas não foi o caso. Acabei ouvindo com mais frequência para conhecer mais e fiquei encantada com a letra e a brilhante interpretação de Elis Regina.

"Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais"
A gente tem uma fase da vida meio rebelde: queremos fazer tudo diferente do que nossos pais fazem ou fizeram, queremos ser melhores do que eles porque sabemos muito melhor do que eles como lidar com as coisas.
Mas, a verdade é que, no fim das contas, "vivemos como nossos pais".

Na semana passada, minha mãe escavou os tesouros da família e, nas caixas guardadas no armário da bagunça, encontrou livros e repassou a herança à filha maluca por livros que ela tem haha Entre os mais de dez títulos que ela guarda desde a juventude (você continua jovem, mãe, fique tranquila <3), estava seu livro preferido: Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo.
Ela me fala sobre esse livro desde que sou adolescente (o que não faz tanto tempo), e eu decidi que ele seria o próximo livro que eu leria, até porque ele é leve pra carregar na mochila e fácil de ler no metrô.

Para minha agradável surpresa, encontrei nos personagens preferidos de minha mãe, Eugênio e Olívia, os meus personagens favoritos: Emma e Dexter, do romance Um dia, de David Nicholls.
A trama, os personagens, suas características mais marcantes, são todos EXTREMAMENTE parecidos. Os traços dos autores, o mistério que envolve a trama... É tudo muito igual. A maior diferença está nas gerações, mesmo (assim como entre mim e minha mãe), e no fato de Érico Veríssimo ser um autor brasileiro consagrado enquanto David Nicholls é britânico e autor de best-sellers.

Em tantas outras coisas vivo encontrando semelhanças com meus pais. Muitas pessoas dizem que sou a cara da minha mãe, outras dizem que temos o jeito e o gênio iguais (não sei se é um elogio, mãe haha). Ela encontra em mim os sonhos que tinha quando era jovem e fica emocionada, além de lutar para que eu realize o que ela não realizou (como escrever um livro. Ela me apoiou DEMAIS e não me deixou desistir, nem quando eu queria, além de ter sido a primeira a ler e se emocionar com a história haha). Já me disseram, também, que sou parecida mesmo é com meu pai, e me observando, noto características de ambos e não só não tento fugir dessas coisas como acho maravilhoso que esses traços tão seus façam parte de quem eu sou de forma tão definidora.

Uma vez, ouvi que quando somos crianças, temos em nossos pais os heróis que não tem defeitos, quando somos adolescentes, vemos nossos pais como os piores de todos, que não servem para nós, mas quando nos tornamos adultos, os enxergamos cheinhos de defeitos e os amamos mesmo assim, porque finalmente podemos aceitar que eles são simplesmente pessoas, exatamente iguais a nós.
Nossas raízes interferem tanto no que a gente é que é importante sermos gratos por elas.

Obrigada, meus amores.